Gonçalo M. Tavares nasceu em Agosto de 1970, em Luanda (Angola). Publicou Livro de Dança, em Dezembro de 2001. A partir desse momento, o ritmo de publicação deste autor tornou-se impressionante: em 2002, surgiu a publicação da sua obra poética Investigações que tinha merecido o Prémio Revelação de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (1999), tendo o escritor publicado ainda mais três obras - O Senhor Valéry, O Homem ou é Tonto ou é Mulher e A Colher de Samuel Beckett.
É admirável o seu percurso, sobretudo, porque para além do volume das suas publicações iniciais, Gonçalo M. Tavares revelou-se um escritor consistente e original. A sua escrita evidencia uma maturação estética, muito sugestiva de um demorado processo de experimentação que nem sempre associamos a um jovem escritor. Nos seus livros evidencia-se um discurso de cariz filosófico.
A sua relação com os livros e a leitura iniciou-se cedo, inicialmente, a partir dos livros que escolhia na biblioteca do pai, depois, aos dezasseis e, especialmente, a partir dos dezanove anos, começou a construir a sua biblioteca pessoal – uma biblioteca lida – que considera ser importante, na medida em que representa um percurso, um itinerário pessoal. Gonçalo M. Tavares afirma mesmo que a leitura é a primeira parte da escrita e, ainda que reconheça o valor formativo do cinema, do teatro e da arte contemporânea, reconhece que o papel fundamental na sua estruturação cabe à literatura, porque o livro oferece um tempo de reflexão ao leitor.
Desde os dezoito anos que mantém hábitos regulares de escrita e leitura, recorrendo ao que ele designa como “esconderijo temporal” – um tempo em que tenta escapar ao mundo e às suas solicitações, um tempo em que está escondido de todas as outras pessoas, fora dos dias normais, apenas consagrado à escrita e à leitura. O seu esconderijo acontece preferencialmente nos períodos da manhã.
Gonçalo M. Tavares concilia a sua actividade de escritor com a de professor de Epistemologia da Motricidade Humana, na Faculdade de Motricidade Humana, da Universidade Técnica de Lisboa.
Conquistou entre outros prémios:
- Prémio Revelação de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (1999) atribuído ao livro Investigações.
- Prémio Branquinho da Fonseca da Fundação Gulbenkian e do Jornal Expresso com o livro O Senhor Valéry.
- Prémio Ler Milennium/BCP (2004) e Prémio José Saramago (2005) com o livro Jerusalém.
- Grande Prémio de Conto da Associação Portuguesa de Escritores “Camilo Castelo Branco” (2007) com água, cão, cavalo, cabeça.
- Prémio Internazionale Trieste (2008) e o Prémio Belgrado Poesia (2009).
- Prémio do Melhor Livro Estrangeiro 2010 em França com Aprender a Rezar na Era da Técnica.
O Reino, designação atribuída pelo escritor a uma parte da sua obra cujo tema central é o mal, integra quatro livros, conhecidos como os livros pretos.
(2003)
A personagem central deste romance é Klaus Klump, um homem forte, filho de famílias ricas, homem que se manterá sempre no centro dos conflitos, quer esteja de um lado ou de outro. Com ele se cruzará também uma mulher forte – Herthe – alguém que fará tudo para se manter sempre no lado dos que vencem. Em pano de fundo deste livro está um conflito militar.
( 2004 )
Romance que decorre exactamente no mesmo período da obra Um homem: Klaus Klump. A personagem central, Joseph Walser, é, no entanto, ao contrário de Klaus Klump, um homem fraco, que se afasta do centro dos conflitos, que aceita tudo, passivamente. A evolução de Joseph Walser pode ser entendida em contraponto à de Klaus Klump. Joseph Walser é trabalhador numa fábrica, e utiliza uma máquina que alterará por completo a sua vida.
«Não tinha sequer uma pistola, mas eliminara a grande fraqueza da existência, fizera desaparecer a primária fragilidade da espécie: não possuía qualquer inclinação para o amor ou para a amizade! E nesse momento, a caminhar em plena rua, desarmado, observando de cima os seus sapatos castanhos, velhos, sapatos irresponsáveis como troçava Klober, nesse mesmo momento Walser sentia-se tão seguro – e ao mesmo tempo ameaçador – como se avançasse dentro de um tanque pela rua. Porém, subitamente, deu um salto para o lado. Quase pisara uma massa alta. Era um homem. E estava morto.»
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