- 2º Prémio- Patrícia Clérigo- 12º AV2
- 3º Prémio- Ana Margarida Sábio Costa 11º CT2
- 3º Prémio- Andrea Jerónimo - 12º AV2
Nasceu em 1974, em Galveias, concelho de Ponte de Sôr (Portalegre). É licenciado em Línguas e Literaturas Modernas (Inglês e Alemão) pela Universidade Nova de Lisboa e, durante alguns anos, foi professor do ensino secundário, tendo dado aulas na Lousã, em Oliveira do Hospital e na Cidade da Praia, em Cabo Verde.
Iniciou o seu percurso literário com publicação de poesia e prosa no suplemento DN Jovem, tendo sido vencedor do Prémio Jovens Criadores do Instituto Português da Juventude nos anos de 1998 e 2000.
Antes de surgir em Outubro de 2000, na Temas e Debates, o seu primeiro romance, Nenhum Olhar, já tinha publicado vários conjuntos de poemas, nos cadernos Átis, e a ficção breve Morreste-me, dada à estampa em Maio de 2000.
Este romance trouxe ao escritor um largo reconhecimento da crítica, plenamente confirmado, no ano seguinte, quando venceu o Prémio José Saramago. Foi considerado, ainda, finalista para a atribuição de dois dos mais importantes prémios literários desse mesmo ano: o Grande Prémio de Romance e Novela da APE e o Prémio do Pen Club.
Em 2001, o livro de poesia A Criança em Ruínas, com edições sucessivas, constituiu um novo êxito de público e de crítica.
Outro marco importante da sua trajectória literária surgiu em Outubro de 2002, com o lançamento simultâneo de Uma Casa na Escuridão (romance) e de A Casa, a Escuridão (poesia), pela reconhecida originalidade de uma ficção e de um livro de poemas que remetem para um mesmo universo referencial.
Tem vindo a representar Portugal em diversos eventos literários internacionais (Paris, Madrid, Frankfurt, Zagreb, entre outros), e em 2002, foi o primeiro autor português convidado para a residência de escritores na Ledig House, em Nova Iorque.
Fez libretos para óperas, trabalhou com coreógrafos na adaptação de obras a bailados, escreveu letras de canções para cantores tão diferentes como Mísia e os Daweasel
É colaborador regular de vários jornais e revistas como o DN (Diário de Notícias), e o Jornal de Letras.
Actualmente, ocupa um dos lugares de maior destaque como um dos jovens romancistas na Europa, tendo muitos dos seus livros traduzidos.
Para ouvir José Luís Peixoto a falar de si e das suas obras (06:56)
Morreste-me é uma breve ficção do escritor em que é retratada a experiência da morte e as memórias que tem do pai.
Publicada pela primeira vez em 2000, esta obra descreve um universo em que a paisagem rural alentejana se mistura com elementos do fantástico. Recorrendo à técnica da corrente da consciência, o escritor surpreende o leitor, levando-o a descobrir a força de um ser humano e os frágeis fios da amizade. Descobrimos dois irmãos siameses, ligados pelos dedos mindinhos, um gigante, inspirado na nossa literatura tradicional, um diabo e o velho Gabriel que corporiza uma imagem do envelhecimento da região alentejana, traduzindo a valorização da sabedoria dos iletrados do meio rural que aprendem com a natureza e o tempo.
(2002)
O segundo romance do escritor perscruta a alma desesperada de um narrador que encontra o verdadeiro amor na imagem de uma mulher reflectida dentro do seu próprio interior, mulher que não existe no seu tempo real. Esse amor é descrito e passado para o papel, noite após noite, tornando-se o centro único da sua vida que já se manifestava completamente despegada da vida real. Habita na mesma casa onde vive com a sua mãe, embrutecida pela dor e com a sua escrava silenciosa. A casa vive um mês por ano na escuridão, sendo apropriada por misteriosos gatos.
A escrita e a mulher amada nascem de um único lugar luminosamente surpreendente. Mergulhado na sua solidão, o narrador inventa, na escuridão, a mulher que ama, instalando-a na sua mente. Vive e alimenta-se do mais belo dos amores, um amor despojado de um corpo presente; um amor que é “o sangue do sol dentro do sol”. E a sua, mas feliz, surge na sua evidência de horror aos olhos do leitor. paixão desmedida, interior
Quando chegam os invasores, a violência torna-se extrema, dolorosa e cruelmente descrita: corpos decepados, ouvidos e olhos trespassados por agulhas, corações arrancados à espada. A casa transforma-se num asilo de seres mutilados, violados, brutalizados quotidianamente, sendo, simultaneamente, um jardim de infância dos filhos dos invasores.
Porque é difícil encontrar no mundo compaixão, o escritor torna-se impiedoso e parece convocar o leitor para uma visão catastrófica, em que o sofrimento passa o limiar do suportável.
Nada impede ou impedirá a escuridão.
De uma força alegórica surpreendente, este romance leva-nos à consciência do desespero de existir. Amputado na sua capacidade de escrever, sonhar e amar, o escritor é salvo da morte em vida apenas pelo poder amoroso das crianças. Atemorizados e aterrorizados, descobrimos que nenhuma força impedirá que matem a música, torturem e matem as crianças e sejam decepados os escritores.
Nesta narrativa poética, o leitor mergulha, com horror, na barbárie, incapaz de a anular ou encontrar um caminho redentor. Entrar nesta casa-livro é percorrer os abismos da humanidade, conhecer personagens que nos deixam perplexos, como o príncipe de calicatri, que guardava no coração todos os países por onde viajou, sendo o mensageiro do amor e da morte, da amizade e do terror, o editor preso por recusar escritas de novos pretensos autores, o senhor violinista que, pelo poder da música, faz ressuscitar a mãe do escritor, a escrava Miriam que ama o príncipe, entre outros igualmente fascinantes que nos interpelam. Visitar esta obra é descer aos (nossos) infernos e perceber os limites que pode ter a dor. Será possível o amor? Poderão o amor e a ternura resgatar o homem dos seus abismos?
Apesar de tanto sangue, de tanto sofrimento, na escuridão e nos breves, mas intensos lugares de luz, há a possibilidade do deslumbramento.
A propósito deste livro, José Luís Peixoto declarou:
"A casa lê-se e, obviamente, a casa escreve-se. A casa, neste livro, é o reduto mais interior de cada indivíduo. Os alicerces, as paredes que, ao longo dos anos, cada pessoa constrói à sua volta. Nesse sentido, cada pessoa é uma casa. Cada pessoa é um espaço onde resquícios do passado permanecem no presente. Também as pessoas têm divisões: quartos e salas. As pessoas - ou melhor, aquilo que mais conta nas suas vidas -, constituem, para mim, a matéria fundamental da escrita. (…)
A escrita deste livro foi paralela à minha descoberta pessoal do mundo. Uma Casa na Escuridão foi escrito em vários países do mundo, muitos dos quais foram países que visitei pela primeira vez. Este livro tem uma cosmovisão consciente. Nessas viagens, percebi que aquilo que é essencial é comum, apenas as representações desses elementos poderão variar. Por isso, neste livro, o mundo é a sabedoria. Por isso, o príncipe de calicatri, depois de correr o mundo, sabe as respostas a todas as perguntas."
in Diário de Notícias (6.11.02)
Outros testemunhos:
"A peste invasora do romance de José Luís Peixoto (...) reconduz-nos a uma tensão entre felicidade e absurdo, inocência (protagonizada um pouco idilicamente pelas crianças) e mal, luz e trevas. A amizade surgindo como o possível absoluto, centrada na personagem do príncipe calicatri, espécie de Cristo inconformado com o seu destino que, ao arrancarem-lhe o coração, perde as respostas para todas as perguntas do mundo. Não será esse o caminho da sabedoria?"
(2003)
José Luís Peixoto associou-se ao grupo Moonspell, uma banda de heavy metal portuguesa com grande sucesso além fronteiras, e criou um projecto inédito e aliciante, produzindo uma narrativa inspirada no universo musical do grupo.
O seu livro de contos foi publicado em simultâneo com o CD de Moonspell com o mesmo título.
(2007)
O quarto romance do autor é baseado na história real do atleta Francisco Lázaro.
José Luís Peixoto admite que esta é a sua obra mais feliz e evoca a transcendência como o tema principal do livro.
Os narradores, pai e filho, desvendam a história da família. Falam de morte, não para indicar o fim, mas a renovação, o elo entre as gerações e o seu devir.
O leitor confronta-se tanto com a vertente luminosa das ligações entre familiares como com a sua dimensão mais obscura, reconhecendo a importância do espaço singular de uma oficina, o cemitério de pianos que alberga pianos "mortos" cujas peças vão dar vida a novos pianos.
(2007)
É um livro de contos que reúne textos de natureza diversa (três poemas, dezassete contos e uma peça de teatro).
(2010)
“É, sem dúvida, uma obra prima da literatura portuguesa. Um romance sobre a emigração económica e também política, dos anos cinquenta até à Revolução de Abril e à actualidade.
As descrições minuciosas e perfeitas da vila alentejana e das suas gentes encontram paralelo na visão dos bairros da lata de Champigny e Saint Denis.
Livro, título da obra, é simplesmente o livro que Ilídio dá à sua namorada Adelaide e o nome que esta dará mais tarde, casada em Paris com o intelectual comunista Constantino, ao filho que nasceu de um fortuito encontro com Ilídio, numa sua vinda à terra sem o marido.
As personagens, muito elaboradas, são de uma verdade e de um pitoresco fabulosos, cruas e por vezes muito originais e coloridas; o Cosme, amigo do coração de Ilídio e de Adelaide; o padre manhoso e falso; o generoso e leal Josué, pedreiro e mestre de Ilídio, seu amigo; a negra Sidonie, a quem Livro ensina a literatura; a velha, luxoriosa e gananciosa, Lubélia, enterrada viva.
A interioridade riquíssima de Livro mostra um ser complexo, que tudo abrange e finalmente se revela autor de tudo o que lemos, autor, narrador e personagem. Dito isto, sentimos que não dissemos ainda o essencial, porque este romance é a tal ponto renovador que dá à pungência da realidade social como que um toque de magia, fundindo-a nos sonhos dos emigrantes, cristalizados nas suas casas afrancesadas, cheias de azulejos e de ostentação.
A poética de José Luís Peixoto está muito discretamente na sua escrita, pelo meio de exuberantes referências culturais.”
Urbano Tavares Rodrigues
Neste livro, cada poema parece ser pessoal e, simultaneamente, improvável. Há imagens estranhas, trágicas, evocações arrepiantes, a sensação de algo que se perdeu, mas que parece deixar marcas em cada passo do caminho. Captamos ritmos que parecem evocar melodias indistintas. Alguns dos poemas são densos, difíceis de decifrar, tantos são os possíveis sentidos por detrás das palavras. O leitor não pode ignorar.
Na hora de pôr a mesa
na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos sempre cinco.
Foi publicado em simultâneo com o romance Uma casa na Escuridão, mas os dois livros são obras autónomas que compartem protagonistas, situações e atmosferas.